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Maternidade sob o sol

No segundo período da universidade, Natália descobriu que teria um menino. Hoje, cuida dele longe da família 

Fotos: João Gabriel e acervo pessoal

Natália vive em uma casa com o filho e mais dois amigos. Todos colaboram nos cuidados com Caetano

São oito horas e Caetano acorda. Natália precisa despertar também para amamentá-lo, mas, para a sorte da mãe, Caetano volta a dormir. Sorte porque o tempo é curto: ela aproveita a "folga" para tomar café da manhã com mais calma, lavar os pratos e começar a arrumar as coisas que ele precisa levar para a creche. Tudo é cronometrado.

Natália tem 23 anos, é de Ibura, periferia de Recife, e veio para Caruaru em 2016 quando entrou na Universidade Federal de Pernambuco para cursar Comunicação Social. Um curso que sempre quis fazer. Um sonho realizado. Entretanto, pouco tempo depois, uma notícia que mudaria o ritmo desse sonho: aos 22 anos, ela estava grávida e ainda no segundo período. Ela sabia que nada seria fácil, pois não tinha uma rede de apoio próxima. Sua família não tem condições financeiras. Depois que Caetano nasceu, consegue permanecer na cidade graças ao auxílio que ela recebe da universidade (R$ 350) e a ajuda que o seu companheiro Will, que mora em Recife.

Ela e o rapaz buscaram uma creche pública para Caetano. Foram muitos meses tentando uma vaga. Natália recorreu a ofícios encaminhados para a Secretária de Educação, mas ainda assim não houve êxito. As aulas começaram e Caetano ainda não tinha onde ficar. Adriana, avó do menino, veio para ajudar a filha, mas os gastos em condução (média de R$ 30 a passagem do ônibus intermunicipal) complicam o ir e vir.

Sem saída, com seu dinheiro contadíssimo, Natália precisou recorrer a uma creche particular. Essa foi a solução encontrada temporariamente. Há uma creche pública perto de sua casa, mas as vagas são raridades: lá, seu filho ocupa a décima posição na lista de espera. 

Até deixar Caetano todos os dias sob os cuidados das profissionais que irão observar e alimentar o menino, são 20 minutos de caminhada. O sol arde. É uma hora da tarde, as aulas começam às duas. A alegria de algum conforto da mãe e do bebê acontece nos dias em que conseguem uma carona ou ela está com dinheiro para pagar um uber. Uma economia e tanto de tempo. Mas normalmente vão só os dois. O pequeno e pesado Caetano em seus braços, bolsa, mochila e sol. Após deixar o menino na creche, a corrida é até o ponto de ônibus. O atraso nas aulas é constante, mas com a rotina cansativa que a estudante leva, o tempo esperando a condução é uma questão menor. É preciso estar firme: no outro dia, às oito, Caetano estará acordando de novo.

Texto: Gabriela Reis

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